Monday, November 29, 2010

3º Dia - Acampamento a Myamapanda



Assim que acordamos, caímos na estrada. Paramos após uns 80 km na cidade de Mutare, para um café da manha e também para analisarmos os mapas e decidirmos o caminho a seguir. Poderíamos seguir direto em direção a Moçambique, mas tínhamos a opção de passarmos por dentro do Parque Nacional Chimaninami. Após conversarmos com alguns locais, a segunda opção nos pareceu mais interessante, especialmente por passar ao lado das maior cachoeira do pais.

Logo caímos em uma estrada de terra que nos levaria por cerca de 300 km de buracos, costelas de vaca, lama, cascalho e, em alguns lugares, trilhas fechadas por onde parecia não passar um veículo há algum tempo. Vimos cobras e uma tartaruga, e arranhamos bastante os carros na trilha repleta de espinhos já próximos a fronteira com Moçambique. Já no começo da noite, em uma bifurcação não sinalizada na trilha, decidimos seguir o caminho da direita, e poucos metros depois, fomos parados por militares fortemente armados que, desconfiados, examinaram os veículos pelas janelas e nos mandaram voltar e tomar o caminho da esquerda.

Aparentemente, a trilha que tomamos havia nos levado a uma fronteira não autorizada e já estávamos entrando em Moçambique. Manobramos e voltamos até a bifurcação, onde tomamos a trilha correta e caímos na estrada que leva a fronteira com Moçambique. Chegamos faltando cerca de meia hora para a fronteira fechar, e assim que estacionamos um dos tais “despachantes”, ainda no lado do Zimbabwe, simplesmente abriu a porta do caminhão da Sharita, entrou e se sentou no assento de passageiros. Aos berros e empurrões, foi expulso por ela, que quase saía na mão com ele a cada pedido de desculpas do “coitado”. Já no lado moçambicano, brinquei um pouco de falar português com os oficiais e os policiais, e após toda a mesma burocracia de sempre, entramos em Moçambique .Estávamos a cerca de 90 km do próximo vilarejo, e seguimos tranquilos, pois os portões se fecharam assim que entramos e quase não havia carros na estrada. Por outro lado, os locais, sabendo que após às 8 da noite não entrava nem saía ninguém, sentavam-se tranquilos quase no meio da pista. Além do mais, corre

um boato que em Moçambique é comum as famílias terem filhos para os atirarem na frente dos caminhões na estrada e receberem uma boa bolada do seguro obrigatório. Como ninguém deseja viver com uma lembrança assim na mente para sempre, decidimos prevenir e seguir devagar.


Na entrada da tal cidade, dezenas de caminhões parados para a noite. Sinal de segurança, paramos por ali mesmo e comemos arroz com frango em um boteco de beira de estrada, onde caminhoneiros, prostitutas e garotos cheirando cola observavam curiosos os dois mzungos exaustos e famintos devorando vorazmente toda a comida até o ultimo grão de arroz. Voltamos para os carros para descansar para o dia seguinte.



Sunday, November 28, 2010

2º Dia - Messina a Acampamento

As 6 da manha fui acordado por um vigia (imagino que do restaurante) que, supostamente, havia vigiado por toda a noite os carros onde dormíamos e queria uma gorjetinha para ir para casa.
Aproveitamos para sair cedo e avançar bastante no dia. Tomamos café da manha em posto de gasolina e rumamos para a fronteira.
Ainda meio tenso com história do visto, paramos, ainda do lado sul-africano, para carimbarmos a saída nos passaportes, assim como a saída dos veículos. Seria meu primeiro contato com os “clearance agents”, espécie de despachantes consulares que, aos montes, cercam seu veiculo assim que você se aproxima da fronteira.
Assim que desci do carro, começaram a me explicar que teria que pagar uma taxa para isso, outra para aquilo, outra para aquilo outro. E que seria muito mais rápido pagar diretamente a eles, que tem acesso direto aos oficiais sem enfrentar filas. Como Sharita já havia me prevenido, não caí na conversa deles e fui direto para a fila da imigração para resolver meu visto. Para variar, havia me preocupado a toa, e em cinco minutos o simpático atendente já havia colado o visto do Zimbabwe em meu passaporte. Todavia, isso não significava que nossa epopéia para entrar no Zimbabwe havia chegado ao fim, muito pelo contrario. Começava ali uma longa e cansativa manha de fila em fila, de guichê em guichê e de informação errada em informação errada.
Primeiramente, o pessoal parecia não conhecer bem os sistema de carnê que havíamos escolhido para provar que não pretendíamos vender os veículos no Zimbabwe. O sistema é bastante simples,e consiste de uma folha que um oficial carimba na entrada do país e o outro na saída. Temos conosco um bloco de carnês comprado na África do Sul, e ainda nao consegui entender o que eles garantem a nao ser uma boa renda para quem os vende. De toda forma, após entenderem como funciona e carimbarem a entrada dos veículos no país, nos enviaram para uma fila para pagarmos o pedágio. Umas três filas e mais algumas taxas depois, nos liberaram para seguir viagem. Poucos metros a frente, onde um grande portão nos separava de seguirmos livremente pelo pais, o policial encrespou com o recibos das taxas que havíamos acabado de pagar. De acordo com ele, haviam classificado-o erroneamente de pequeno caminhão Isuzu que ela ia dirigindo, e ao invés do boleto branco deveríamos ter pago o boleto verde. Umas vez pago o boleto verde, decidimos caminhar até o tal portão verificar com o policial se realmente poderíamos seguir viagem como havia nos dito novamente o oficial a quem pagamos o dito boleto verde, e para nossa surpresa, descobrimos que ainda tínhamos que pagar o “cupom”. Enfim, após mais algumas idas e vindas, fomos liberados e, já no começo da tarde, conseguimos entrar no Zimbabwe.
Seguimos por uma estradinha estreita, porém sem muito movimento, perfeita para eu ir me acostumando com o volante do lado direito e o tráfego invertido. Enormes árvores baobas nos fizeram companhia nesse caminho, algumas grandes o suficiente para caber uma ou duas pessoas dentro da caverninha que se às vezes se forma em seus troncos. Sei que em algum lugar na África do Sul, existe um pequeno bar dentro de uma gigantesca árvore Baoba. No fim da tarde, começou a cair uma forte chuva e assim que anoiteceu, entramos na primeira quebrada que apareceu e enfiamos os veículos mato adentro até estarmos bem escondidos, e após um banho de gato (interrompido após descobrirmos enormes escorpiões correndo de uma lado para o outro a poucos cm de nós), dormi como uma pedra.

Friday, November 26, 2010

1º Dia - Polokwane a Messina


Acordamos bem cedo para terminar de carregar os veículos com toda a tralha que estava na sala da Sra Van Der Merwe há quase 2 meses. Na tarde anterior, somente em barrinhas energéticas e pó para preparo de bebidas isotônicas, carregamos quase uma tonelada e meia nos carros. Fora isso, estamos levando muito equipamento de acampamento, cozinha, ferramentas, eletrônicos e tudo mais. Ambos os veículos estão acima da capacidade, mas teremos que lidar com isso ate o Quênia, onde encontraremos os outros veículos, que são dois caminhões Over Land com enorme capacidade de carga e levarão toda a tralha até o Egito.
As 6 da manha chegou o pessoal que tentaria resolver um problema elétrico no novo caminhão da compania. Uma segunda bateria, um conversor e um freezer. Após algumas horas, tudo parecia perfeito. Hora de cair na estrada.
Ao meio dia, passamos os enormes carros com bastante cuidado pelo portão da casa, e após alguns quarteirões, já estávamos na estrada. Impossível correr, seguimos lentos e tranquilos, grande parte do tempo pelo acostamento. Pouco antes dos 100 km, passamos pelo marco do Trópico de Capricórnio, e paramos para umas fotos (apesar do céu cinza). Havia uma construção onde breve será inaugurado um local para informações turísticas, venda de souvenir, banheiros, etc. O vigia, ao ver o gringo (eu) tirando fotos, não perdeu tempo. Me cumprimentou simpaticamente, fez algum comentário sobre as nuvens cinzentas, e começou seu discurso de que estava ali ha 2 dias sem dinheiro para ir para casa, e que ainda faltava 2 dias para alguém ( provavelmente a pessoa que o substituiria) chegar com seu dinheiro. Sharita se aproximou e ele nada disse. Ela se afastou e ele recomeçou o discurso.



Seguimos viagem, e aos poucos fui relaxando. O volante do lado direito, as marchas na mão esquerda, o trânsito invertido, o carro pesado e instável, tudo era novo para mim. Paramos para comer em uma cidade chamada Makahado (antiga Louis Trichar), e aproveitamos para comprar algumas coisas que havia ficado faltando. Ali começava uma região montanhosa e de fazendas de caça esportiva. Em determinado local, para onde eu olhava eu via babuínos. Fantástico!
As 4 da tarde chegamos à cidade de Messina, distante 30 km da fronteira com o Zimbabwe, após apenas 200 km rodados, e decidimos adiar a travessia da fronteira e acampar aqui mesmo. Reza a lenda que Messina é o local mais quente de toda a Africa do Sul, o que faz bastante sentido. É mesmo muito quente. Assim que chegamos, entramos em um restaurante com ar-condicionado, pedimos algo bem gelado para beber, e aproveitamos que do lado de cá da fronteira o 3G ainda funciona (afinal, foi por isso que optamos por ficar aqui hoje) para adiantar um pouco o trabalho.
Amanha, a aventura continua, e atravessaremos a fronteira para o Zimbabwe. Espero que nos deixem entrar, sem habilitação internacional e com uma tonelada e meia de alimentos. Além do mais, o Zimbabwe é um dos países para o qual não tive tempo de tirar o visto no Brasil.
Veremos….

Thursday, November 25, 2010

África!

Saí de Belo Horizonte com destino a Joanesburgo, na África do Sul. Voo rápido e tranquilo.
Cheguei a Joanesburgo no começo da tarde, e não consegui trocar meu dinheiro no aeroporto (a casa de câmbio no aeroporto de São Paulo estava fechada). Logo encontrei uma pessoa que conhecia outra pessoa que trabalhava em um supermercado e poderia trocar meu dinheiro extra oficialmente. Quando dei por mim, estava na sessão de frutas de um mercado, em uma atitude mais que suspeita, discretamente deixando meu dinheiro no bolso de um desconhecido e recebendo meus “Rands” (moeda local) em meu bolso como se nada estivesse acontecendo. Quem assistiu à cena, teve certeza se tratar de uma negociação de drogas. De posse de algum dinheiro local, fui para o hotel que já estava reservado para mim, tomei um bom banho, saí para comer um sanduíche e dormi cedo para não perder meu voo do dia seguinte.
No dia seguinte, ainda na van para o aeroporto, dei falta de minha carteira de motorista internacional, o mais importante documento depois de meu passaporte. Começou o desespero. Esvazia a mochila, arruma a mochila, esvazia a mochila, arruma a mochila… Nada! Liguei para o hotel e não estava no quarto. Sinal que havia a perdido no “movimento” de trocar o dinheiro no dia anterior. Bom, o que não tem solução, solucionado está, e fiz o que eu podia. Mandei uns e-mails para a família para pesquisarem quanto tempo levaria uma segunda via junto ao Departamento de Trânsito, e outro para Sharita, a pessoa com quem eu me encontraria em Polokwane para iniciar o longo deslocamento com os veículos de apoio até o Egito.
Após 40 minutos em um avião teco teco, cheguei ao aeroporto de Polokwane, e após recolher minha bagagem (que incluía minha bicicleta em uma caixa de papelão totalmente destruída), encontrei-me com Sharita, sem saber como explicar a história da carteira de habilitação. Para minha surpresa, ela deu uma gargalhada, e me disse que também estava sem, que a burocracia era muita, e que o melhor seria seguirmos viagem os dois com nossas habilitações normais. Passamos no galpão onde estavam os veículos e fui apresentado à Toyota que vou dirigir através do continente (logo eu que odeio um volante). De lá seguimos para a casa de sua família, onde para minha surpresa (mais uma vez), eu ficaria hospedado. Fui muito bem recebido, e muito sem graça, me instalei no quarto de hóspedes. Seria apenas por uma noite, mas vários imprevistos nos seguraram mais 2 dias em Polokwane. Resolvíamos uma coisa, surgiam mais dez, ou, “descascávamos um abacaxi” e surgiam 50 “pepinos”. Enfim, foi uma experiência interessante passar alguns dias hospedado com uma família local e, na mesa do jantar, participar das discussões sobre racismo, apartheid, caça de rinocerontes, etc.. Enfim, os carros ficaram prontos, o passaporte dela chegou, e finalmente estava na hora de cair na estrada. Estrada essa que, por sinal, seria toda em mão inglesa ate Nairóbi, no Quênia. E o volante do carro, obviamente, era do lado direito. Detalhe que, por sinal, eu não havia tido tempo de considerar. Bom, hora de agradecer a hospitalidade da família Van Der Merwe e cair na estrada.